Experimentações fotográficas
(por André Coelho)
A inércia criativa é um problema. E quando percebemos essa sensação de falta de estímulo, é hora de mexer o esqueleto e buscar novas referências, novos caminhos, novas tentativas. Às vezes se atrever simplesmente pela experiência. E o que é experimentar? É conhecer, testar, provar, sem saber exatamente qual será o resultado. É aí que está sua riqueza. Definições à parte, o tema deste post é uma experimentação no campo da fotografia, a partir do curso Introdução à Arte Fotográfica, ministrado pelo Guilherme Cunha em junho desse ano, na Exa. Calma! Vamos explicar quem é quem.
O curso teve como proposta trabalhar os princípios básicos e os conceitos fundamentais da fotografia a partir de conteúdo histórico, teórico, prático, técnico e poético. Contempla o surgimento da ideia essencial da fotografia, suas origens, personagens, e os desdobramentos desse, então, novo meio de produção de imagem em seu período histórico. Seus participantes utilizaram o recurso fotográfico como instrumento criativo e não apenas mecânico, desenvolvendo um olhar e pensamento críticos em relação às imagens produzidas. O Exa, segundo sua autodefinição, é um espaço múltiplo em Belo Horizonte dedicado ao desenvolvimento da criatividade para fomentar a produção, formação, reflexão e a experimentação no universo da arte em seus diversos campos de diálogo, como arquitetura, design, fotografia, vídeo, oferecendo espaço para exposições, cursos, seminários, mostras. O Guilherme Cunha é fotógrafo e artista formado pela Escola Guignard – UEMG e bolsista pela Pittsate University – KS – EUA. É co-fundador do estúdio de fotografia Mineral Image. Foi nesse cenário que ingressei para novas experiências com a luz.
Às vezes é interessante revisitar os fundamentos técnicos dos processos que usamos no dia a dia e nem nos damos conta para que servem. Duas situações me chamaram mais atenção nesse mês de curso, sendo que uma se refere à temática, a fotografia portrait e a outra à técnica, o pinhole improvisado na DSLR. Primeiro, falo do portrait, “retrato” em inglês. Queria muito experimentar um pouco mais o retrato, visto que fotografar pessoas é uma preferência absoluta e eu estava ali para fazer o que tivesse vontade, sem muito compromisso com um conceito ou uma campanha publicitária. Das várias tentativas de iluminação e temática, surgiu, quase por acidente (e influenciado pelo Bruno Vilela), a ideia de usar algumas caretas para a experimentação com retratos. Nosso instrutor ainda colocou “lenha na fogueira” e me instigou a sair da estética convencional, clássica. Não deu outra: arrumei no estúdio do Paulo Laborne um arco iluminado que simularia um ring flash. Além das cenas convencionais que clicamos, convidei alguns colegas para fazerem caretas bem acentuadas, contrapondo a iluminação que geralmente é utilizada para retratos suaves com uma luz uniforme, pouquíssimas sombras, bem beauty. Registrei o tal iluminador circular, porque ainda faço um desses em casa:
E agora alguns resultados dessa brincadeira:
Para quem tem muita disposição, há opções mais baratas para ter seu ring flash, como o adaptador Orbis, um DIY – faça você mesmo – com kit pronto e outro em que você tem que se virar a partir do zero, que vi no Strobist.
Em outra ocasião, um dos encontros que me entreteve desde 5h da manhã em Macacos/MG. Nós nos reunimos em um mirante, cuja vista é maravilhosa, para acompanhar o nascer do Sol e seu respectivo resultado em nossas fotografias. De brinde essa névoa surreal que cobria o horizonte:
Quando o dia começa a clarear, a luz vai se modificando, começando bem suave e difusa, até uma luz mais forte, dura, marcada. Experiência bem interessante. Mas o que importa agora é nossa pinhole na DSLR. Pinhole data dos primórdios da fotografia é a modalidade que não utiliza lentes, apenas uma câmara escura e um orifício pelo qual a luz vai passar e sensibilizar o papel. Essa adaptação na câmera DSLR consiste em remover sua objetiva e substituir por um anteparo escuro, fixado com fita isolante. No meio desse anteparo, como um papel ou um plástico preto e plano, fizemos um furo com alfinete. O resultado é o funcionamento de um princípio elementar da óptica, no qual a luz refletida pelos objetos atravessa o orifício e atinge o sensor, gerando imagens interessantes e inusitadas. Antes de irmos embora (dormir!) fizemos um segundo furo no anteparo (que pode ser até a própria tampa do corpo) e as imagens foram registradas duplicadas. Uma busca no oráculo por DSLR Pinhole e encontramos várias formas de fazer uma. Sair do convencional pode ser muito mais divertido do que se imagina:
Agradecimentos aos participantes Adriano Guerra, Bruno Vilela, Paula Berbert, Cláudia Apgaua, Andréa Souza, Gabriela Garcia e ao instrutor Guilherme Cunha.
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